Lembro que comecei a torcer pelo Clube de Regatas do Flamengo graças a minha avó. Ela ainda muito nova, em Itabuna-CE, ouviu no rádio sobre um time que jogava de vermelho e preto.
O encanto dela passava por alguns jogadores, especialmente pelo icônico Fio Maravilha, um jogador carismático e sortudo, além de Zico obviamente.
Eu não tive o prazer de ver Zico jogar, mas tudo que ouvi falar sobre ele era sensacional.
A maior parte dos comentários positivos em relação ao Messias rubro-negro dava conta também dele ser parte integrante de um time fortíssimo, em especial os laterais Leandro e Júnior Capacete (hoje, o comentarista da Globo Júnior Maestro), além dos meio-campistas Adílio e Andrade e o matador Nunes.
Quase todo mundo que falava do time mega vencedor do Flamengo nos anos 80 reverencia não só Zico, mas também o hoje saudoso Adílio, jogador que se dedicou a vida inteira ao Flamengo e venceu tudo que podia, na época.
Ele até jogou em outros clubes, como o Coritiba do Paraná, mas sua carreira de fato foi no Mais Querido. Lembro inclusive dele sendo treinador de categorias de base, durante longos anos.
Comentava-se que Leandro era um craque na defesa, que Andrade era um meio-campo moderno e que Adílio era de uma qualidade absurda com a bola no pé.
Conviver com grandes jogadores pode engrandecer um craque, mas também pode ocorrer o efeito inverso, de simplesmente ofuscar um talento. Bebeto jogava muito e acabou sendo elevado a um posto maior graças a Romário.
Curiosamente Adílio sofre dos dois vieses, já que sempre foi associado a Zico.
O camisa 10 obviamente valorizou seu fiel companheiro, o seu meio-campista criador e driblador, mas para as pessoas que não são versadas em Flamengo, talvez fique a impressão de que Adílio não era tão grande quanto de fato era.
Era um craque, não só no meio-campo, mas também na ponta-esquerda. Muitos torcedores achavam que ele era melhor jogando no ataque e não na meiuca.
Ele era de uma classe ímpar.
Sempre foi decisivo, foi autor de um dos gols no histórico 6 a 0 em cima do Botafogo, o famoso Jogo da Vingança, de 1981. Também fez gol na final do mundial de 1981 contra o Liverpool da Inglaterra e fez um gol na final da Taça Guanabara de 1982.
Confira, narração de José Roberto Tedesco, que era repórter na época, mas narrou esse momento e anos mais tarde virou locutor.
Adílio Foi um dos atingidos pela pedra de Mario Soto, na final da Libertadores, contra o Cobreloa do Chile, fora que também foi peça fundamental nos títulos daquele 1981 mágico.
Após se aposentar do futebol de campo ele migrou para outra categoria, jogando futebol de salão.
Ele foi campeão do mundo com a Seleção Brasileira de Futsal na Copa do Mundo de 1989. É até hoje o único jogador da história a ter atuado como profissional nas Seleções Brasileiras de futebol de campo e de salão.
Abaixo selecionamos um jogo dele pela seleção brasileira, que contava com Junior, Leandro, Zico, Careca, onde o mago Adílio serve o lateral Junior, dando um passe para o gol do lateral.
Adílio deixa o mundo terreno, sai dos campos de grama, terra e areia para bailar sua habilidade, classe e técnica na Eternidade.
É uma pena que um sujeito de tão boa índole, de humildade e caráter se vá tão cedo.
O menino que uma vez pulou o muro da Gávea para jogar bola com seus amigos deveria ter entrado pela porta da frente, deveria ter um tapete dourado estendido, para que pudesse desfilar sua elegância e classe como merecia.
Adílio era humilde, inteligente, genial, amava o Flamengo e foi amado pela torcida. É esperado que seja louvado para todo o sempre.
A Nação fica órfã, pois perdeu um dos seus maiores artífices.