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    Romário no Flamengo, Parte 2 : O lado financeiro da questão

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    Como foi toda a negociação financeira entre o Flamengo e o jogador Romário

    No dia 14 de janeiro de 1995, chegava ao Flamengo o melhor jogador do mundo, Romário, o craque da camisa 11, recém-vencedor da Copa do Mundo.

    Esse foi um marco histórico não só para o Mais Querido, mas também para o futebol brasileiro e para o país como um todo.

    Como dito antes, no último capítulo da série, Romário veio do Barcelona em uma manobra financeira que tinha tudo para dar errado. Pois bem, agora falaremos um pouco sobre essa questão, sobre o dinheiro, sobre o retorno financeiro, sobre o que deu certo e errado na operação.

    Sobre futebol

    Antes de falar a respeito da questão puramente financeira, é bom avaliar que a chegada de Romário fez com que alguns dos adversários do Flamengo se reforçassem.

    Segundo matérias da época, por pouco o artilheiro Túlio Maravilha não saiu do Botafogo, no mesmo ano em que o alvinegro da estrela solitária iria ser campeão brasileiro.

    O centro-avante pretendia voltar para a Suíça (para o Sion) mas acabou permanecendo no Rio, para se sagrar campeão brasileiro junto a Donizete Pantera, Sérgio Manoel e cia.

    A torcida do Botafogo até homenageou os dois atletas, em gritos que louvavam Túlio e desdenhavam de Romário.

    Fora isso, o prefeito Cesar Maia “ajudou” a vinda do atleta.

    Matérias da época davam conta de que a prefeitura faria um aporte financeiro, através de uma empresa, que entraria US$ 1 milhão no negócio. Na época disse:

    A vinda de Romário será boa para a cidade.

    O político utilizou bastante o discurso de que Romário vinha para o Flamengo por amor a cidade do Rio de Janeiro, embora não houvesse da parte do Baixinho muita sinalização a esse respeito.

    Vale lembrar que esse era o segundo mandato de Maia como prefeito do Rio. Ele elegeu seu sucessor (Luiz Paulo Conde) em 1996 e tentou o governo do estado do Rio de Janeiro em 1998, perdendo para Anthony Garotinho.

    Anos mais tarde, Cesar Maia seria derrotado pelo próprio Romário, na eleição para senador da república, em 2014, com o ex-atleta tendo mais que o triplo de votos em comparação com o antigo prefeito.

    Real equiparado

    Para o leitor mais moço, é bom avisar que na época da operação com Romário, estava em início de implementação o chamado Plano Real, que era um projeto de instituição da nova moeda – obviamente, o Real, unidade essa que ainda é utilizada.

    Como esse era novidade, havia um esforço por parte do governo federal de manter a economia brasileira com capacidade de altos investimentos, portanto, além do Plano Real ter estabilizado a inflação (ainda no governo Itamar Franco) também houve uma equiparação entre Real e Dólar.

    O Real era o principal argumento a favor do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, o FHC, o mesmo político e sociólogo que foi Ministro da Fazenda no governo tampão de Itamar Franco.

    Essa estabilização da moeda gerou uma oportunidade rara e praticamente inédita, onde a moeda nacional se emparelhava com a unidade mais utilizada no mundo. Foi assim na maior parte do período de 1994 até meados de 99, ou seja, com um real valia um dólar, o Flamengo comprou Romário por US$ 4,6 milhões ou “somente” R$ 4,6 milhões.

    Para efeito de comparação, Alcaraz custou R$ 110,6 milhões (U$20 mi) em agosto de 2024.

    A troca do regime cambial

    Essa oportunidade foi fechada exatamente no primeiro ano de mandato de reeleição de FHC. Desta forma, houve uma mudança grave de postura, com abandono da chamadas “bandas cambiais” para uma opção de câmbio flutuante, onde a moeda variava dentro de uma margem, com cotações que eram determinadas pelo mercado.

    Curiosamente, nessa época, Romário se envolveu em uma polêmica, utilizando suas tradicionais camisas com mensagem para referenciar FHC.

    Romario e FHC
    Imagem: O Globo, 06/09/1999

    A confusão ocorreu também graças ao estatuto do Flamengo, que proibia manifestações políticas como essa.

    Questões políticas e eleitoreiras à parte, fato é que essa saída inviabilizou movimentos como os de Flamengo e Romário.

    Em 1999, nenhum time brasileiro conseguiria igualar uma proposta por Ronaldo, Zidane ou Rivaldo, que ganharam o prêmio de melhor do mundo em 97, 98 e 99 respectivamente.

    O Começo de um sonho…

    Em entrevista dada ao jornal O Globo, Kleber Leite disse que a contratação do craque seria uma solução para as outras dívidas do Flamengo. Supostamente ele traria novas receitas e pagaria o investimento feito.

    Qualquer pessoa que minimamente viva o futebol sabe que isso é cascata. Ainda há quem faça isso, especialmente um clube alvinegro paulistano, mas a realidade de 95 foi que o endividamento rubro-negro aumentou após a contratação de Romário e de outras estrelas.

    O clube antecipou receitas da televisão, não pagou uma série de impostos, acumulou dívidas trabalhistas com jogadores, técnicos e funcionários diversos…ou seja, fez a mesma tática que até hoje times endividados fazem, tanto que as cotas de televisão já foram antecipadas por várias equipes, como Botafogo e Internacional de Porto Alegre, por exemplo.

    Mesmo com a subida de receita nos anos seguintes, as contas não fecharam no azul jamais, entre 1995 e 2000.

    O pool de empresas

    Como era sabido, o Flamengo sempre fechava os anos com prejuízo. Era mais do que óbvio que clube não poderia investir dinheiro em Romário, mesmo considerando que a economia brasileira favorecia algumas importações. Seria preciso uma injeção considerável de dinheiro, de forma externa e foi o que Kleber Leite tentou.

    Houveram contribuições de quatro empresas, o Banco Real, o shopping center BarraShopping, a cerveja Brahma e a fornecedora de material esportivo Umbro, além do já citado apoio da prefeitura de Cesar Maia.

    Isso seria impensável atualmente, especialmente o aporte de dinheiro público, embora eventualmente ocorra.

    Vale dizer que, apesar de altos custos, os 4,6 milhões de reais não representavam um percentual tão alto se comparados com o faturamento.

    Segundo matéria do ótimo Rodrigo Capelo, o valor era “apenas” 14% do montante anual que o Flamengo arrecadava.

    Como o clube tinha prejuízo toda temporada, não conseguindo pagar suas despesas com o que gerava de receita, obviamente não deveria ter fechado acordo com um atleta tão caro, ao menos não caso a gestão fosse séria.

    Comparando com a atualidade

    É inegável que muita coisa mudou no Flamengo, especialmente depois da eleição do grupo que venceu Patrícia Amorim em 2012, o mesmo que depois se dissolveu e que incluía os dois últimos presidentes e o atual, Luiz Eduardo Baptista o Bap.

    A ideia do Flamengo é investir dentro de um orçamento previsto, dentro de uma previsão factível, com responsabilização aos dirigentes que eventualmente pratiquem uma gestão que gaste mais do que o razoável.

    Mesmo pensando que em 2024 o Flamengo gastou com seus dois maiores reforços em matéria de investimento (no caso, De La Cruz e Alcaraz) ainda assim há um ideal de fazer investimentos que possam ser cobertos pela arrecadação do time, seja com receitas de televisão, valor de ingresso, programas de sócio torcedor, venda de jogadores etc.

    Contratações caras, como Arrascaeta, Gerson, Gabriel Barbosa, Pedro ocorreram pelos recursos do Flamengo. Não foi um “pool” de empresas, tampouco aporte de governo que viabilizaram essas e outra contratações, foi o retorno que ocorreu após uma organização, após equacionar dívidas e cumprir os acordos comerciais e de empréstimo.

    Flamengo não deve salários, ao contrário, até paga multas de rescisão, boa parte delas desnecessárias, aliás. O clube se organizou e tem uma boa saúde financeira, tanto que mesmo em um ano que não arrecadou tanto, como foi o ano passado, ainda rende ao time a capacidade de conseguir empréstimos com juros baixos.

    Não era o caso em 1995.

    Nos próximos capítulos da saga de Romário no Flamengo, falaremos de mais feitos e de suas ótimas frases.

    Também separamos um especial sobre a estreia dele. Esse ano falaremos bastante a respeito do centenário e da bagunça que era o Flamengo nessa época.

    Seguimos.

    Vamos Flamengo!

    Confira as nossas postagens especiais sobre a chegada de Romário ao Flamengo:

    Parte 1: A Chegada
    Parte 2: A Parte Financeira
    Parte 3: O Frasista
    Parte 4 : A Estreia
    Parte 5 : O Primeiro jogo no Maracanã  
    Parte 6: O Primeiro gol de Romário pelo Flamengo

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