O Voz do Ninho estreia o Fala, torcedor!, série em que torcedores vão poder contar histórias relacionadas ao Flamengo. Neste espaço, o principal jogador é você. A primeira história é contada por Leopoldo Garcia, engenheiro civil, aposentado de 58 anos, pai de Victoria, e morador do bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Se você é apaixonado pelo Flamengo e quer ter sua história contada por nós, entre em contato conosco pelo e-mail: vozdoninho.redacao@gmail.com ou pelo WhatsApp (21) 99235-2261.
Filho de espanhóis e torcedores do rival Botafogo, a descoberta do amor pelo Flamengo não foi obra do acaso na vida do engenheiro civil aposentado Leopoldo Frederico Garcia Alvarez, de 58 anos.
“Moro em Botafogo desde os sete, oito anos, ali na Morada do Sol, bem pertinho de General Severiano. Meu pai, um espanhol da cidade de Bilbao, chegou ao Brasil com minha mãe e viraram torcedores do Botafogo. Quando completei dez anos de idade, comecei a vir ao Maracanã com um pai de amigo meu chamado Juarez, já falecido, que viajava o mundo para acompanhar o Flamengo. Conheci a história do Clube, comecei a ir com esse vizinho ao Maracanã e, dois anos depois, por volta de 1978, passei a frequentar sozinho o estádio para ver jogos do time no Carioca e Brasileiro. E não parei mais”, relembrou com exclusividade ao Voz do Ninho. Contou, também, que viu Zico e Junior várias vezes jogando partidas preliminares.
Simpático e boa praça, Leopoldo torcia pelas vitórias do Flamengo ao lado das organizadas Raça e Jovem, de quem até hoje mantém amizade com os componentes das tradicionais torcidas.
“Apesar de ser torcedor de cadeira cativa pela praticidade de ver os jogos, viajo pelo Brasil e pelo mundo e, na maioria das vezes, acompanhado dessa galera da Raça e Jovem. Somos torcedores raíz, não tenho dúvida”, frisou.
Apesar de viver boa parte dos 58 anos frequentando o Maracanã, o primeiro jogo e título do Flamengo, Leopoldo não lembra. Segundo o engenheiro, guardar datas não é o forte.
“Não tenho boa memória! Mas já vi tantos e tantos títulos do Flamengo que isso não passa a ser tão importante. O que é fundamental para quem começou a torcer muito cedo para o Flamengo foi ter visto grandes jogadores que passaram pelo clube, se tornaram ídolos e conquistaram os principais títulos na história do Flamengo, como os de 1981”, recordou.
Como não herdou do pai o amor pelo Flamengo, faz questão de deixar como legado para a filha Victoria, de 16 anos, o que é ser Rubro-Negro.
“Minha filha frequenta o Maracanã desde o primeiro ano de vida dela. Faço questão de trazê-la para que saiba o que é ser Flamengo. E o legal disso tudo é que ela começou mais cedo do que eu”, diz esboçando um leve sorriso.
Dentre os títulos que viu o Flamengo ganhar nessa relação de amor mantida com o Clube, Leopoldo não hesita quando fala qual o mais emocionante.
“Acho que 1981 foi mais importante, mas 2019 foi fantástico. Estávamos eu e amigos no Peru, em Lima, e foi uma emoção indescritível. Já no Mundial, viajei com minha filha que estava com 13 anos à época. Pena que o resultado não veio”, recordou.
Mas se o título do Mundial de Clubes não veio, o bicampeonato da Libertadores, que o Flamengo não conquistava há 38 anos, foi uma conquista difícil que até hoje o torcedor Rubro-Negro guarda no peito com carinho.
“É legal falar que há histórias armazenadas por nós, torcedores, que precisam ser descortinadas e trazidas à luz para que saibam o que foi essa Libertadores de 2019. Conheço o doutor Augusto, que operou a face do Renato Augusto, atualmente no Corinthians, e tantos jogadores. Ele me contou que o Rafinha, operado por ele, contou uma história interessante sobre a decisão contra o River Plate. Segundo ele, o Rafinha disse que o Jorge Jesus não parou um segundo sequer de apoiar o time. Que JJ ficava a todo instante falando para eles irem para cima, não pararem de buscar o empate. Quando o Flamengo empatou, nós, na arquibancada, começamos a nos preparar para a prorrogação. Foi quando em seguida, o Gabigol marcou aquele gol da virada e aí, o resto é o que todos sabem”, comemorou.
Contrariando a lenda de que o torcedor Rubro-Negro só sabe contar vantagem e lembrar de conquistas, Leopoldo Garcia cita que Santo André e América do México foram as derrotas mais doloridas nestes 50 anos frequentando o Maracanã.
“Essas derrotas me fizeram sair arrasado daqui do Maracanã. Mas no jogo contra o Santo André, em 2004, fiz um esforço enorme para vir ao estádio, comprei ingresso na hora nas mãos de cambistas e paguei um preço três vezes mais caros. Enfrentei gás de pimenta da Polícia Militar, tomei porrada, quase fui pisoteado e, na hora de passar na bilheteria, a funcionária disse que não poderia me deixar entrar em razão do meu ingresso ser falso. Questionei e como não tinha como voltar pelo ‘mar’ de gente Rubro-Negra, ela liberou minha entrada quando se assustou com os gritos de “entra, entra, entra” dos torcedores querendo entrar. Foi surreal aquilo. Ninguém esperava por aquele resultado. Fui muito chateado para casa naquele noite”, lembrou. E, após esse episódio, decidiu comprar três cadeiras cativas no estádio no início de 2005.
Mesmo sem conquistar nenhum título e emplacar sucessivos vexames em 2023, Leopoldo Garcia não desiste do Flamengo. Realista, já jogou a toalha quanto ao Brasileirão e tem esperança na conquista da Copa do Brasil.
“Depois que tiraram o Dorival Júnior, achei que o Flamengo não encaixou. Time sem garra, sem vontade e é desanimador, pois não dá esperança para o torcedor. A Copa do Brasil é o que nos resta, mesmo sabendo que não vai ser nada fácil jogar essa final contra o São Paulo. Já o Brasileirão, particularmente, é inalcançável”, concluiu.
Fotos: arquivo pessoal