Ex-presidente relembrou momentos em que esteve à frente do Flamengo
Edmundo dos Santos Silva suportou muita coisa por amor ao Flamengo. Dos 57 presidentes que sentaram na cadeira mais desejada na Gávea, sede do clube, o ex-mandatário rubro-negro viveu emoções pueris como uma criança indo ao Maracanã pela primeira vez.
Além disso, bastou Edmundo dos Santos Silva fechar os olhos para relembrar do período em que foi o homem mais importante no Flamengo no triênio 1999, 2000 e 2001. Por meio de boas e más recordações, o baiano de Salvador reviveu os dias em que passou à frente da presidência do Mais Querido, importantes conquistas.
Marcado pelo tricampeonato estadual que o Flamengo não conquistava desde 1979, Edmundo dos Santos Silva reconduziu o Mais Querido ao cenário internacional. Foi nesse período que, com o título da Copa Mercosul, em cima do Palmeiras, e a Copa dos Campeões, sete anos após o pentacampeonato de 1992, que o torcedor mostrava o presidente em que se transformara.
Disposto a ‘vestir’ a camisa do clube, Edmundo dos Santos Silva transpirava ideias e respirava sonhos internamente no Flamengo. Ou seja, o dirigente vivia dia e noite, noite e dia, as cores vermelho e preto nos corredores da Gávea.
Com Edmundo dos Santos Silva respondendo pelo Clube de Regatas do Flamengo entre 1999 e 2001, basquete, natação e vôlei – este com Leila e Virna conquistando a Liga Nacional, em um 3 a 2 no Vasco, no Maracanãzinho, em 2001 – saíram da sobra do futebol e tiveram luz própria.
No entanto, parafraseando Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) no clássico poema escrito em 1928, no qual o poeta mineiro diz que “havia uma pedra no meio do caminho…”, essa pedra tinha três letras: ISL.
A International Sport and Leisure (ISL) – então maior empresa de marketing esportivo do mundo à época – era brisa que refrescava a carreira de dirigente. Garboso no comando do Flamengo, um furacão soprou ventos impiedosos na direção de Edmundo dos Santos Silva, presidente julgado por improbidade administrativa por um conselho deliberativo rigoroso.
O tiro de misericórdia veio na noite do dia 8 de julho de 2002, quando 530 sócios beneméritos votaram pelo SIM, 26 pela absolvição, sete votos em branco e cinco nulos pelo primeiro e único impeachment na história do Flamengo.
Inocentado, Edmundo dos Santos Silva comeu o ‘pão que o diabo amassou’ no período em que esteve preso e nas vezes que enxergou o suicídio como a solução para a vida. Cristão, casado e com dois filhos, o ex-presidente do Flamengo conversou com o Voz do Ninho e contou um pouco a história de quem nasceu baiano, mas vive para ser rubro-negro.
Voz do Ninho – Quando olha para trás, qual o balanço que o senhor faz dos três anos em que foi presidente do Flamengo?
Edmundo dos Santos Silva – Fui o presidente que fiz um projeto, um livreto que encaminhei aos sócios, à imprensa, e às autoridades. Viajei para entender o que estava acontecendo com o esporte pelo mundo, o que culminou em um projeto. Naquele momento, as TV’s dos clubes existiam no exterior e entendia que o Flamengo deveria ter um canal de TV próprio para aproximar mais ainda milhões de torcedores do clube. Falava que o Flamengo tinha uma receita ínfima considerando a marca e que o clube como canal de marketing deveria ter o próprio estádio. Além disso, era necessário profissionalizar o clube, dentre outras propostas.
Voz do Ninho – Quais?
Edmundo dos Santos Silva – Pensava muito à frente dos meus opositores. Era e sou contra sócios e conselheiros discutirem assuntos do clube pela imprensa. Muitos deles são fontes de jornalistas. Minhas propostas foram lançadas e vejo que a marca Flamengo é a maior do Brasil e uma das maiores do mundo e, quando conseguíssemos profissionalizar o clube, separar em três grandes departamentos como futebol, esportes olímpicos e o social, nos tornaríamos uma potência.
Voz do Ninho – O senhor foi acusado de desvio de receita, improbidade administrativa e um rombo de quase R$ 200 milhões nos cofres do Flamengo. Em seguida, sofreu um processo de impeachment e deixou o comando da Gávea pelas portas dos fundos do clube. O que de fato aconteceu?
Edmundo dos Santos Silva – Foi provado que todos os recursos colocados pela ISL foram aplicados no clube. Tanto que uma comissão de alto nível foi formada e por meio de um relatório comprovaram que todos os recursos da ISL entraram no clube. Desde o primeiro dia do meu mandato, contratei a Delloitte, auditoria top five. Contratei a Fundação Getúlio Vargas para reestruturar o clube. Desenvolvemos um plano de cargos e salários para os funcionário.
Voz do Ninho – O senhor foi o único presidente deposto na história do Flamengo. O que aconteceu de fato para que o mandato do Edmundo Santos Silva chegasse a esse ponto?
Edmundo dos Santos Silva – O Flamengo é politico e não soube fazer politica. Me preocupei em reestruturar e capitalizar o clube, mas isso afetava interesses. Lembro de um fato com a Umbro, empresa que fornecia material esportivo ao Flamengo, passava por um momento delicado e não estava cumprindo com as obrigações contratuais. Trouxemos a Nike, e a turma que tinha trazido a Umbro nos criou diversos problemas. As pessoas que fizeram aquilo não imaginam o que fazem com a família de um dirigente. Lembro que um dia pensei em sair desse mundo, mas tive um Deus que me fortaleceu, e rapidamente corrigi meu rumo.
Voz do Ninho – O senhor chegou a ser preso. Como foram as três noites que passou na prisão?
Edmundo dos Santos Silva – Muito ruim para qualquer ser humano, principalmente por um motivo que não tinha nada a ver com minha pessoa. Esse processo foi anulado, mas a imagem da prisão fica na memória das pessoas.
Voz do Ninho – Como presidente do Flamengo, qual a maior alegria que o senhor teve?
Edmundo dos Santos Silva – Muitas foram as alegrias, mas o tricampeonato de 2001, sem dúvida, foi uma conquista que até hoje quando revejo me emociono.
Voz do Ninho – O time de 2001 foi o melhor da história do Flamengo?
Edmundo dos Santos Silva – 1981 é insuperável.
Voz do Ninho – E a maior tristeza que o senhor viveu no Flamengo?
Edmundo dos Santos Silva – A maior tristeza foi ter sofrido um injusto e covarde processo de impeachment. Hoje, diversas pessoas que participaram daquele movimento contra a minha pessoa falam que foram envolvidas por outras pessoas que tinham interesses no clube e votaram pela minha saída.
Voz do Ninho – Quem seriam essas pessoas?
Edmundo dos Santos Silva – Não ataco ninguém pelas costas, falo pessoalmente, como falei para alguns.
Voz do Ninho – Quem é seu melhor amigo no futebol?
Edmundo dos Santos Silva – Júlio César, ex-goleiro do clube, é o meu melhor amigo. Mas tenho alguns outros oriundo do futebol. Jogadores, ainda tenho contato, com Gilmar Rinaldi, Júlio César, Beto, dentre outros. Todos belíssimas figuras.
Voz do Ninho – Pensa em concorrer a algum cargo político no Flamengo?
Edmundo dos Santos Silva – De forma alguma!
Voz do Ninho – Por quê?
Edmundo dos Santos Silva – Teria que passar por um processo de reinserção no Flamengo. Que fique claro, não fui expulso do clube. Apenas devolvi por espontânea vontade meu título de emérito. Para voltar ao Flamengo, tinha que ser feito um trabalho político para o clube me devolver a emerência. Mas não tem a menor chance disso acontecer. Tenho dois filhos pequenos e uma esposa a quem me dedico em tempo integral.
Voz do Ninho – Ultimamente, o que tem feito na vida?
Edmundo dos Santos Silva – Sou sócio de uma empresa, a Videira, que está construindo por meio da subsidiária Agroviva, uma plataforma eletrônica voltada para o agro negócio para proteger e incentivar o pequeno e médio agricultor. Por meio da Videira, desenvolvemos Valuation, que é um termo de origem inglesa que significa avaliação de empresas e estudos voltados para captação de recursos.
Voz do Ninho – O que tem achado do ano do Flamengo?
Edmundo dos Santos Silva – A parte social do clube, vai muito bem. Os esportes olímpicos têm conquistado diversos títulos nas mais variadas atividades. Já no futebol, as pessoas ficam comparando o time atual com o de 2019. Não teremos equipe igual àquela, como não teremos outra igual o time de 1981. O legal é que o clube cresceu de tamanho no futebol. Somos umas das principais equipes do mundo. No entanto, em primeiro lugar, precisamos ter calma, pois a equipe de 2019 envelheceu e estamos em um processo de renovação. Segundo, tivemos trocas de peças importantes. Toda a defesa de 2019, não está mais no clube. Mas estamos no caminho certo de reestruturação.
Voz do Ninho – Acredita que o Flamengo vai conquistar algum título em 2023?
Edmundo dos Santos Silva – Estamos em três competições em 2023, não fomos felizes no primeiro semestre, mas conquistaremos pelo menos dois títulos esse ano. Acreditem!
Voz do Ninho – Qual o recado que o senhor deixa para os torcedores do Flamengo?
Edmundo dos Santos Silva – Confiem na gestão atual, já deu mostras que são vencedores. Estamos renovando a equipe com as competições em andamento e com isso, lesões aconteceram de forma inesperada. Estamos dentre os 30 clubes mais ricos do mundo. Nossas redes sociais estão no topo e nosso futebol participando das últimas edições da Libertadores. Vamos nos unir e incentivar nossos atletas, que nos darão muitas alegrias ainda esse ano. Esse é o recado que quero deixar para o torcedor rubro-negro. Saudações Rubro-Negras!